domingo, 11 de abril de 2010

Artista plástico retrata o encontro

Na última apresentação do EI! Encontro de Improvisação no Centro Cultural São Paulo, o artista plástico Pedro Torres, assistiu ao encontro e o retratou por meio de desenhos. Segue abaixo algumas das representações.







segunda-feira, 5 de abril de 2010

Diário de campo

Todavia não me apresentei. Encontro-me agora no interior de um covil de bailarinos. Eles não sabem o que estou fazendo aqui. Nossos corpos diferem. Eles se esticam ao passo que redijo. Dois homens, dentre eles o mentor da companhia, e seis mulheres. Seus corpos são maleáveis, o meu é rijo como os grafemas que registro em busca de algum entendimento. O salão em que eles ensaiam é respeitável. Piso de tábuas largas e contínuas. Ambiente afável. Hoje substituí a sala de aula pela prática etnográfica efetiva. O que viria a ser uma antropologia do encontro? Eles se espreguiçam. No alto da grande sala há uma placa amarela: “homens trabalhando”. Eles se alongam quase o tempo todo em silêncio, objeto que sempre tratei de documentar. Uma bailarina, ao passo que se retorce, me encara e cisma, “– Diabos, que tanto escrevinha esse sujeito!”. Os olhares vez ou outra conferem minha presença. Eles tomam posição frente ao monitor para mirar o espetáculo cuja remontagem se aproxima. Eles devem decidir o que desprezar e o que conservar. “­– Está muito anos oitenta isso aí” [Diga-se de passagem, que belo objeto de exame não são os oitenta]. “What is behind the curtain?”. Seus corpos agora se transformam, sentados, como quaisquer outros. De pé, atrás de todos eles, espreito a constituição de uma cena acometida pela composição de uma outra. “– Eu nem me recordava de nada disso”. De que são compostas afinal as “imagens poéticas”? Pista sonora, Creep, Radiohead. Para adentrar o salão é preciso estar descalço. Tudo indica que estamos num templo em que se transcende pelos pés. Fui acometido por um clichê. As apresentações de dança jamais serão iguais. Hora de práxis. Eu retorno à aresta e eles se tornam um círculo. Eles exercitam exaustivamente um mesmo movimento cuja coerência transita pelo mínimo. Oito pessoas matutando. “– O deslocamento, assim, fica duro, fica fora”. Aos poucos se avizinham de um ideal. Um corpo engendra outro. O traçado é bonito, macio. “– O braço corre aqui, a perna se ergue para lá”. “– Para reter uma coreografia não podemos isolar os gestos”. “– Eu não afasto os braços dela a esmo. Eu penso tudo ligado”. As metáforas denotam fluidez. Faz alguns minutos que uma bailarina está em transe. Apartada de todos, como eu.

Quarta-feira

Hoje estive presente a mais um encontro de improvisação. Foi nessa direção que descobri, por acaso, sujeitos elementares da investigação que há pouco registrou seus primeiros passos. Aos poucos o olhar se acostuma ao estranhamento da matéria. Inversamente ao que havia traçado, optei mais uma vez pelo espaço reservado aos espectadores e não pela extensão circunscrita à cena. Farei assinalar insights. O distinto senhor que tenho diante de mim exercita o português frente a dois objetos, o jornal de hoje e um Larousse. Pela esplêndida nariganga, pelo prodigioso bigodão, e pelo restante da composição, eu arriscaria se tratar de um arábico. Ontem o princípio do meu sono se confundiu com uma longa sucessão de devaneios atabalhoados. Ocorreu-me pensar a criação, esse assunto essencialmente coberto de sigilo pela nossa cultura. A meu ver a concepção de que o artista cria a partir de coisa nenhuma, ex nihilo, é vigorosamente prestigiada por nossa hereditariedade bíblica, que concede ao mundo, aos homens e às coisas uma existência antes da qual resta senão um vão silencioso. Essa noite eu experimentei um sonho deliciosamente surreal. Há dois dias presenciei uma cena que parece ter excitado um desejo recôndito. A imagem da reprodução exaustiva de um breve trecho coreográfico se inscreveu de tal forma em minha memória, que minha mente foi capaz de ocupar caprichosamente o interior da compleição de um bailarino. Subitamente era eu quem encenava aquela série de movimentos irrepreensivelmente retidos na lembrança. Hoje fiz uso da máquina de lavar e meus trajes se multiplicaram. O número de disposições possíveis dos membros do conjunto nos seus subconjuntos se ampliou. Hoje dei sossego ao par de tênis que me escoltava desde que cheguei. Eles agora hibernam debaixo do escuro da cama. O novo par parece não ter ainda se habituado à nova cidade. Em breve estará mais confortável. Troquei novamente os botões. Violetas por copos de leite. Hoje o intervalo temporal entre o diário e o blog se tornou insustentável e num arroubo de espírito publiquei leves sínteses dos últimos dias. Atravesso uma breve crise no que tange o propósito desta página. Talvez eu devesse fundar um preceito íntimo e assim parar de matutar em demasia sobre o que componho ou deixo de exprimir. A unidade, evidentemente indispensável, eu relego à natureza da espécie que, segundo Giorgio Agamben,

[...] não subdivide o gênero, expõe-no. Assim, desejando e sendo desejado, o ser faz-se espécie, torna-se visível. E ser especial não significa o indivíduo, identificado por esta ou por aquela qualidade que lhe pertence de forma exclusiva. Significa, pelo contrário, ser um qualquer, ou seja, um ser que é, indiferentemente e genericamente, cada uma das suas qualidades, que adere a elas, sem deixar que nenhuma o identifique.
Por Renato Jacques

domingo, 4 de abril de 2010

Fotos do último dia no EI!

Os intérpretes criadores e participantes

Os intérpretes criadores e participantes

As intérpretes Paula Ferrão e Renata Aspesi.

segunda-feira, 29 de março de 2010

P.U.L.T.S no EI!



Na última quarta, a companhia de teatro coreográfico P.U.L.T.S, realizou sua segunda apresentação no EI! Encontro de Improvisação do Centro Cultural São Paulo.

A sala Adoniran Barbosa ficou tomada por pessoas. Algumas participaram dos exercícios, outras observaram. Público bastante diversificado, de todas as idades, classes sociais e culturais.

O encontro de improvisação começou com alongamentos, exercícios de respiração e movimentos realizados na Yoga ministrados pela bailarina Clarissa Sacchelli. Em seguida, a intérprete Renata Aspesi comandou os exercícios de base e contato.

Após o aquecimento, o diretor e coreógrafo Marcelo Bucoff propôs exercícios de improvisação. Para estimular o processo de criação dos participantes, Bucoff apresentou elementos como caixas de fósforos, microfone e livro, todos utilizados no último espetáculo – Primeiros Versos. Um novo componente foi oferecido ao grupo, um puff.

Com os objetos disponíveis, os participantes iniciaram um processo de criação envolvente. Duos foram sendo formados, e aos poucos a interação entre o grupo crescia, formando corpos que se entrelaçavam totalmente expressivos. Renato Jacques, 26 anos, pesquisa a dança através da antropologia, assistiu ao encontro como espectador. “Ao observar as expressões corporais, sinto vontade de fazer parte do grupo. No próximo encontro, quero deixar de ser observador e passar a ser um participante”, relata.

Todos os componentes disponibilizados foram utilizados. No entanto, somente duas pessoas pegaram o microfone para expressar por meio da linguagem oral. O primeiro foi um poeta que declamou poesias e expressou suas opiniões sobre o cotidiano. O segundo, o jovem Felipe Gonçalves da Silva, 22 anos, morador de rua, fez um desabafo comovente. Para ele o encontro é um espaço de criação que possibilita contato com outras culturas e pessoas, sem sofrer qualquer tipo de preconceito. “Ao pegar o microfone senti que pude expressar meu ser como um todo, ser ouvido por outras pessoas, ser pleno”, afirma.
O participante Felipe Gonçalves da Silva

A interprete Paula Ferrão, encerrou o encontro ao som de violino e disse: “Volta se quiser, se não quiser não volta”.
Por Candice Frederico

segunda-feira, 22 de março de 2010

P.U.L.T.S integra o EI!

O teatro coreográfico P.U.L.T.S, participa do EI! Encontro de Improvisação no Centro Cultural São Paulo. O trabalho, que teve início no dia 17 de março, tem como proposta inserir as pessoas na dança contemporânea. No primeiro encontro, o diretor e coreógrafo Marcelo Bucoff propôs exercícios de improvisação a partir de elementos utilizados no último espetáculo - Primeiros Versos - com os interpretes da companhia e o público. O processo de criação consiste na composição da teatralidade dos movimentos através da poesia, vídeo - arte e música.

Por Candice Frederico

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Além dos índices

Não sei muito nomear as sensações experimentadas ou dar adjetivos específicos ao espetáculo “Índice dos Primeiros Versos”. Causa assombramento e estranheza, no melhor sentido destas palavras. Um espetáculo de mistura. De antropofagia de movimentos, artes, vida. Desta forma, me permito a ousadia de usar algumas frases do manifesto antropofágico de Oswald de Andrade para tecer alguns comentários sobre a bela estréia que presenciei.

Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.

Ou não. Apenas índices. Índices de capítulos abertos absorvendo, processando e criando. Absorção de movimentos e sentimentos. Processo do antes, do durante, experiências atemporais. Criação de luta, teatro, show e é claro, dança.

Uma consciência participante (...).

Ou um palco da vida. Onde a música muda. Onde a gente muda. Um todo que são partes.

O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo.

Voz, movimentos, expressões, música e silêncio, narrando vida. Corpo narrador.
Contra a Memória fonte do costume. A experiência pessoal renovada. A humana aventura. A terrena finalidade.

A memória afetiva, e aquilo que a memória não alcança.
E se a abstração do texto é válida, uma vez que o espetáculo também não se faz de simples entendimentos, certamente a beleza deste está muito aquém de ser reproduzida por àquele.
Por Frederica Padilha

quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Para os amigos do P.U.L.T.S

Renata Aspesi

Hoje me vi com muita saudade das nossas tardes de criação no P.U.L.T.S. Depois de quase um ano de convivência fiquei refletindo sobre tudo o que rolou nesse nosso lugar sonhado. Todos os laços que foram criados e como eles foram ficando cada vez mais fortes. A cumplicidade que foi se formando entre as pessoas do elenco e como isso foi fundamental pra criar um ambiente acolhedor onde todo mundo se sentia em casa, livres pra gritar, cantar, se despir, se calar e transformar o caos em arte. Pra mim era como se todo dia a gente estivesse de verdade indo pra uma celebração, sabe? Um lugar onde a gente se prepara pra ir e quer chegar logo pra poder se sentir inteiro, no meio daqueles que falam a mesma língua que você, uma língua que a gente mesmo inventou pra tratar de traduzir aquilo que a gente quer falar com o corpo e por todos os poros desse corpo neutro, que aí não fica mais tão neutro assim... Mas fica poroso, expressivo, verdadeiro pra poder materializar a poesia que se fez movimento no nosso lugar sonhado.

Por Renata Aspesi - Intérprete do P.U.L.T.S